segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Sobre epidemias e estratégias de erradicação

Hoje quero partilhar convosco uma excelente crónica que surge no meio das notícias sensacionalistas e algo contraditórias relativas aos primeiros contágios do vírus Ébola fora do foco de origem da infecção, partilhado por 3 países da África ocidental: a Serra Leoa, a Libéria e a Guiné Conakri.

Pondo então de lado a evolução do estado de saúde das infecções confirmadas, e todo o ruído veiculado pela comunicação social nos últimos dias, foquemo-nos durante uns instantes nas estratégias adoptadas pela OMS (Organização Mundial de Saúde para os mais distraídos). A crónica refere-se às campanhas de erradicação da Varíola e de como o seu redondo falhanço foi a solução.

O problema é que uma campanha exclusivamente baseada no envio de dinheiro e medicamentos, comida e desinfectantes, junto de populações com profundo desconhecimento e desconfiança relativamente às medicinas e métodos "ocidentais" é um desperdício. O mais certo é a comida não chegar, os medicamentos serem queimados e os desinfectantes enterrados. Não. Não se trata de racismo. Não é um ponto de vista racista. É um ponto de vista que denuncia a falta de visão de uma Organização Mundial centralizada e com estratégias que não ponderavam (repare-se no tempo verbal usado: não ponderaVAM) as particularidades inerentes aos seus destinatários. Ponto de extraordinária importância!

Aquando da Erradicação da Varíola, quando as ajudas humanitárias era destruídas sem serem utilizadas, aquando do falhanço da campanha, a OMS parece ter aprendido que o investimento no envio de equipas especializadas não só em medicina, mas também nas culturas e hábitos locais, é bem mais producente do que enviar de longe dinheiro e objectos totalmente estranhos, sem qualquer explicação, simplesmente "impingidos" e forçados num acto desesperado de urgência.

Só 30 anos depois, o último foco de Varíola foi extirpado na Índia. Depois desta trabalho moroso de respeito pelos costumes e preocupação com a saúde mundial. Saúde Mundial essa que está afecta aos costumes e crenças locais, sim. Mas que pode ser mantida através de protocolos respeitosos e de diálogo que é, efectivamente, produtivo. É um processo moroso, sim, é. Mas tem que ser feito.

Claro, este é apenas um aspecto da questão. Mas é importante, sem dúvida. Há muitos outros, de caracter mais político. Mas o trabalho de resolução de outros problemas tem que ser feito a par do trabalho médico, de forma prolongada. Neste momento, o trabalho mais urgente tem que ser feito a nível local, informando e trabalhando junto das populações, para que o contágio seja travado.

Deixo-vos aqui o link para a Crónica.

(Photo by Thomas Hoepker. INDIA. Bihar. 1967. A country doctor visits a village where a mother holds her child who is sick during the 1967 samllpox epidemic. Imagem retirada daqui)

7 comentários:

  1. A crónica é super interessante e faz-nos ficar a conhecer um pouco mais deste surto. Nada melhor do que estar informado!

    http://ummarderecordacoes.blogs.sapo.pt/

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  2. Também a achei muito interessante! :-) É um tema menos focado dentro do assunto das epidemias mundiais. E eu gosto sempre de olhar para os vários aspectos que cada assunto destes naturalmente tem.

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  3. Achei a cronica muito interessante!

    Portuguese Girl with American Dreams
    http://fromportugaltonyc.blogspot.pt/

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  4. Informação nunca é demais :)


    *Beijinhos*
    Caty<3
    http://myfairytale4.blogspot.pt/

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  5. Gostei bastante deste post e da crónica.

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